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IFMA conclui projeto de energia solar na Ilha do Cajual, em Alcântara

A implementação da energia fotovoltaica favorece a produção de óleo de babaçu e evita o êxodo

Por: Cláudio Moraes - IFMA

A comunidade de Santana dos Pretos, mais conhecida como Ilha do Cajual, é uma Ilha do município de Alcântara (MA), com cerca de seis mil hectares, dos quais grande parte está coberta por babaçuais. Habitada por afrodescendentes quilombolas, desde meados do século XIX, a Ilha retratada na obra de ficção científica “Realidade Oculta”, de autoria do paleontólogo potiguar Tito Aureliano, não possui acesso à rede elétrica fornecida pela empresa concessionária local. Assim, o modo de produção de subsistência na ilha é extremamente difícil, o que tem levado os moradores da ilha ao êxodo em busca de melhores condições de vida e de trabalho.

Para tentar alterar esse cenário, pesquisadores do Instituto Federal do Maranhão (IFMA) Campus Alcântara elaboraram um projeto para desenvolver uma rede de energia solar na comunidade. ”Trata-se  de uma fonte de energia limpa e sustentável, que causa impactos mínimos à comunidade”, pondera o chefe do Departamento de Extensão e Relações Institucionais (DERI) do campus, Sandro Morett Furtado de Oliveira. “A instalação desta fonte de potência elétrica deve ajudar no ciclo produtivo do óleo de babaçu, com a mecanização em substituição à forma rudimentar de exploração praticada há gerações na ilha” afirma o coordenador do projeto Francisco Wellery Nunes Silva, doutor em Física pela Universidade Federal do Ceará

Além do aumento da produção de derivados do babaçu, o projeto apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico do Maranhão (FAPEMA) pode contribuir, ainda, com o incremento da produção da farinha de mandioca, que também é uma das culturas de subsistência desenvolvidas pela comunidade, além de ajudar no armazenamento e conservação dos pescados, informou Morett.

Apoio da Fapema

O projeto “Implementação de Energia Solar para o Desenvolvimento da Produção do Óleo de Babaçu na Ilha do Cajual, Alcântara – Maranhão” foi aprovado no edital Apoio à Inclusão Produtiva para as Comunidades Rurais Quilombolas -– 2017. “O recurso financeiro só foi liberado no final de 2019, o que levou ao atraso na execução”, explicou Morett.

Em 2020, devido ao conflito entre os prazos estabelecidos e o decreto estadual das restrições por conta da pandemia, a equipe executora encerrou o projeto com a fundação, prestou contas e devolveu o recurso financeiro que seria utilizado para a execução. “Como os materiais permanentes já haviam sido comprados, a equipe decidiu concluir o projeto com recursos dos próprios membros, com o apoio do diretor geral do campus, professor Jorge Renato da Silva e de um colaborador externo, o engenheiro Guerche da Silva Ribeiro”, informou o chefe do DERI.

Metodologia

Há cerca de 40 dias, os pesquisadores concluíram a implementação do sistema fotovoltaico autônomo, sem nenhuma ligação com a rede elétrica. Foram instalados painéis fotovoltaicos, controlador de carga, baterias e inversor. “Os painéis fotovoltaicos são os equipamentos responsáveis pela conversão de energia solar em energia elétrica”, informou Morett.

Como os sistemas isolados são totalmente independentes, necessitam de componentes auxiliares para garantir a reserva de energia: as baterias e o controlador de carga. “A bateria faz o armazenamento de energia necessária durante os períodos de baixa ou inexistente radiação solar e o controlador de carga protege os painéis de corrente reversa e as baterias de sobrecarga ou descarga profunda”, prosseguiu.

Além desses componentes, foi necessário um inversor responsável por transformar a corrente contínua, gerada pelos painéis, em corrente alternada utilizada na alimentação dos equipamentos.

Integraram a equipe, ainda, os professores Dailan de Jesus Pereira Bernardes, mestre em Engenharia de Computação e Sistemas e doutorando em Engenharia Elétrica, Saul Menezes Gutman, mestre em Agroecologia, e Cesar Augusto Santana Castelo Branco, mestre e doutorando em Engenharia de Eletricidade.

O projeto contava, ainda, com uma etapa de levantamento de informações sobre a população atual da ilha do Cajual, para quantificar os moradores que atuam diretamente na produção do óleo de babaçu. Após essa etapa, os produtores seriam entrevistados e com os dados seria possível obter os parâmetros iniciais da produção que serviria de base para o indicativo dos resultados finais do projeto. “Infelizmente a pandemia do coronavírus inviabilizou esse trabalho”, lamenta o professor Saul Gutman. “Pretendemos dar continuidade a essa etapa, mediante um projeto de extensão apoiado pelo IFMA”, afirmou Morett.

Há 10 anos, a ilha possuía cerca de 500 habitantes segundo relatos iniciais dos moradores. Hoje, deve contar com um total de 45 famílias resultando em apenas 161 pessoas. “O problema do êxodo é recorrente, devido à escassez de opções de trabalho e às dificuldade no desenvolvimento de atividades agrícolas com maior produtividade devido à falta de energia elétrica”, destacou Morett. “Esperamos que o projeto altere, de forma positiva, essa realidade”, concluiu.

Sobre Cajual

A ilha do Cajual está localizada na Baía de São Marcos próximo a Alcântara. É um importante sítio paletontológico brasileiro, onde foram encontrados fosseis de espécies de animais como o Espinossauro e do gênero Sigilmassasaurus.

A presença, em Cajual, de fósseis também presentes na África, pode provar que os continentes já estiveram unidos formando o Gondwana. A “Lage do Coringa”, onde são encontrados os fósseis, fica até 2 metros abaixo da água quando a maré sobe e só pode ser visitada em algumas horas do dia.

Os moradores do local dependem de meios rudimentares para sobrevivência, tendo em vista que a ilha não possui energia elétrica, água encanada, rede de esgoto, nem posto de saúde.

Numa tentativa de divulgar a Paleontologia para o público geral, o paleontólogo potiguar Tito Aureliano, vinculado à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), lançou em 2015, a obra de ficção científica “Realidade Oculta”, tendo a Ilha de Cajual como cenário.

Trata-se de aventura fantástica, em que um grupo de cientistas é acidentalmente transportado a 95 milhões de anos pretéritos e lutam pela sobrevivência em meio a dinossauros e outras ameaças, na inóspita Ilha maranhense.

Sobre as ladeiras de Alcântara

Ainda não conhece Alcântara, com a sua história, sua riqueza, seu sofrimento e sua comunidade, na maioria, de descendentes de escravos que foram obrigados a aprender a sobreviver naquelas terras?

Pois então aprecie as imagens e o som com o professor e pesquisador Saul Gutman, num trabalho audiovisual produzido em conjunto com os estudantes do campus em 2012.

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